CORREIO DO ESTADO
Após 13 meses seguidos de queda no preço, a Suzano, principal produtora de celulose de Mato Grosso do Sul, com fábricas em Três Lagoas e em Ribas do Rio Pardo, emitiu um alerta alarmante ao mercado, dizendo que os preços atuais estão “completamente insustentáveis”, refletindo um desequilíbrio estrutural que ameaça a sobrevivência de parte da indústria.
Em reportagem publicada pelo site Brazil Stock Guide, que destacou as preocupações da maior produtora mundial de celulose de eucalipto, a Suzano diz que de 15% da capacidade global de produção de fibra curta opera hoje abaixo do custo de caixa.
Mas, segundo a empresa, os produtores europeus são os mais mais afetados pela crise. Por conta disso, os executivos da Suzano entendem que cortes na oferta se tornaram inevitáveis após 13 meses consecutivos de preços inferiores a US$ 600 por tonelada. Desde agosto a empresa já reduziu a produção em cerca de 3,5%, o que equivale a um corte de 450 mil toneladas.
Em Mato Grosso do Sul, a celulose foi o principal produto na pauta de exportações ao longo dos dez primeiros meses do ano, representando 29,4% de tudo aquilo que o Estado vendeu para outros países.
Na comparação com o ano passado, o volume exportado teve um salto de 57%, passando de 3,71 milhões de toneladas para 5,84 milhões. Porém, o faturamento cresceu apenas 25,6%. Subindo de U$ 2,121 bilhões para U$ 2,665 bilhões.
No ano passado, quando a cotação da celulose já não estava nos melhores patamares, o valor médio da tonelada rendeu 570 dólares aos cofres das três indústrias que atuam no Estado. Neste ano, porém, elas tiveram rendimento médio de apenas 456 dólares.
Por conta desta queda nos preços, as indústrias deixaram de faturar em torno de 666 milhões de dólares, ou algo em torno de R$ 3,6 bilhões na moeda local, nos dez primeiros meses deste ano.
O alerta da Suzano foi feito durante a prestação de contas relativa aos resultados do terceiro trimestre da empresa. E, segundo Leonardo Grimaldi, diretor do negócio de celulose da Suzano, a situação é crítica e “o setor está sangrando há meses”.
Embora o consumo chinês demonstre sinais de recuperação, o executivo observou que o movimento é gradual e que ainda há espaço para reajustes de cerca de US$ 20 por tonelada nos próximos meses.
A Suzano projeta “ajustes mais significativos do lado da oferta” nos próximos trimestres, diante do avanço dos custos de madeira, de novas restrições ao uso de fibras recicladas na China e da falta de rentabilidade nas fábricas da Europa e da América do Norte.
Mas, mesmo com o cenário adverso, a Suzano informou que continua avançando na redução de custos. O custo caixa caiu 4% no trimestre, para R$ 801 por tonelada, e já está abaixo de R$ 800 no quarto trimestre — o menor nível em anos. Segundo a empresa, o resultado foi impulsionado por menores custos de madeira e energia, ganhos logísticos e economia no uso de insumos químicos.
O novo contrato de fornecimento de madeira com a Eldorado Brasil deve reduzir o custo em 4% por tonelada a partir de 2026, reforçando a meta de manter custos estruturalmente baixos até 2027.
Foco em disciplina financeira
O presidente da Suzano, Beto Abreu, adotou tom cauteloso durante teleconferência para apresentação dos resultados, afirmando que a estratégia da companhia será “apostar em eficiência e produtividade, e não esperar por um novo ciclo de preços”. A alavancagem subiu levemente para 3,3 vezes o Ebitda, reflexo da queda nas cotações internacionais, mas a dívida líquida permaneceu estável.
Abreu reiterou que o foco da Suzano no curto prazo será “extrair valor dos investimentos já realizados”, referindo-se às operações em Aracruz (ES), à parceria com a Kimberly-Clark e às unidades de embalagem nos EUA. A empresa não pretende lançar grandes projetos no momento.
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